O presidenciável Ciro Gomes veio à Bahia a fim de apresentar a sua imagem para o 4º maior colégio eleitoral do país. A sensação com certeza não foi das melhores. Apagado no evento do 2 de julho pela máquina petista capitaneada por Lula, e do outro lado pela motociata bolsonarista, com a presença do próprio presidente Bolsonaro que roubou a cena este ano, foi relegado a um papel secundário, senão terciário, em sua passagem pelo estado.
Não seria nenhuma injustiça dizer que a sua presença pela Bahia passaria despercebida se não fosse a foto tirada com a também pré-candidata a presidente pelo MDB, Simone Tebet(numa tentativa de dar um tom de cordialidade na disputa pelo protagonismo da terceira via) e por mais cenas de destemperos presenciadas no cortejo, quando mais uma vez Ciro se indispôs com militantes petistas que gritavam o nome de Lula.
Mas não é só no evento de 2 de julho que o Ciro Gomes teve um papel secundário. Pior que isso, é perceber que dentro do seu o próprio partido, não é prioridade. Na Bahia, o PDT, um partido filiado a internacional socialista, flerta com o carlismo, corrente politica conservadora de direita que teve laços históricos com a ditadura militar. É a crise de identidade que abala o partido. “Ser ou não ser, eis a questão?”
Dominado por Felix Mendonça Jr, cuja família tem laços histórico com o carlismo, o PDT baiano tende a apoiar a candidatura de ACM Neto, um pré-candidato a governador que já declarou que não dará apoio a nenhum presidenciável que não seja do seu partido, esse ninguém inclui Ciro Gomes. É o diretório renegando um palanque eleitoral para seu candidato. Talvez nem o PDT baiano acredite na possibilidade da ida de seu candidato para o segundo turno, então é melhor, na Bahia, ficar do lado daquele que lidera as pesquisas para quem sabe indicar um ou outro cargo no futuro governo.
Claro que essa postura desanima os pedetistas históricos que, inclusive, imploram pelo apoio de Ciro Gomes e da direção nacional, para permitir que eles possam dar um palanque para o seu candidato a presidente. Porém o aceno de apoio de Ciro não vem. Como então querer ajudar alguém que não tem força para pedir ajuda?! Sendo boicotado dentro do próprio partido, a passagem de Ciro Gomes pela Bahia serviu mais aos pré-candidatos a deputado de seu partido do que a ele.
A situação é fácil de ser analisada. Enquanto o PDT baiano se nega a dar um palanque eleitoral para Ciro, Ciro vem a Bahia emprestar a sua imagem na tentativa de cacifar os pretendentes a estes cargos(deputado estadual e federal). Talvez seja uma forma de Ciro Gomes justificar o subsidio de R$ 21,3 mil mensais que ele recebe do partido.
A verdade é que o PDT na Bahia perdeu sua identidade. Enquanto uma parte dos filiados históricos se afastam ao ver no que o partido se transformou, outros remanescentes lutam pra que o partido retornem as raízes. Enquanto isso, aqueles que detém o poder do partido nas mãos negligenciam a ideologia da agremiação, fundada nas égide do trabalhismo de Vargas, e pulam de lado sem a menor cerimonia, se rendendo ao conservadorismo repaginado de ACM Neto.
Escrito por Caio Pimenta, advogado, âncora do programa Primeira Mão, da radio Ouro Negro 100,5 FM. Ele também escreve sua coluna no site News Infoco, do qual é editor- chefe e dirige a radio web 2 de julho.