Eleito com 41.705 votos — o equivalente a 50,09% dos votos válidos — Gustavo Carmo (PSD) assumiu a Prefeitura de Alagoinhas no dia 1º de janeiro de 2025 com um discurso ambicioso e uma promessa ousada: transformar Alagoinhas na "cidade do bilhão". Contudo, ao completar seis meses de mandato, o cenário real apresenta-se aquém do discurso de campanha e da expectativa gerada. Completados 180 dias de gestão, a cidade segue imersa em velhos problemas e convivendo com uma série de obras entregues de forma "inacabada", além de gargalos visíveis na infraestrutura urbana, na educação e na mobilidade. A expectativa de uma virada de chave para um novo ciclo de desenvolvimento esbarra, até aqui, em limitações de planejamento, execução e gestão.
Obras provisórias, promessas inconclusas
A Fonte dos Padres, anunciada como uma das grandes revitalizações do novo governo e prometida para junho de 2025, foi "liberada" de forma provisória. O motivo alegado? As chuvas. A população, no entanto, segue tendo transtornos. Assim como a fonte, a requalificação da Rua 14 de Janeiro, entregue com festa no dia 1º de julho, foi alvo de denúncia do vereador Luciano Almeida (UB), que expôs por meio de vídeo nas redes sociais que a obra, tida como concluída pela prefeitura, apresenta falhas estruturais e trechos inacabados. Esse modus operandi — de inaugurações simbólicas, sem finalizações efetivas — parece, infelizmente, ter se tornado uma marca da atual administração.
Ver essa foto no InstagramContinua após a publicidade
Trânsito: um nó urbano ainda sem solução
A mobilidade urbana de Alagoinhas se tornou um dos principais calos da gestão. O trânsito no centro da cidade encontra-se travado em horários de pico, com congestionamentos constantes nas avenidas Dantas Bião, Rua Bahia, Teresópolis e adjacências. A ausência de um planejamento efetivo e a falta de gestão técnica e estratégica à frente da Superintendência Municipal de Trânsito (SMT) têm agravado a situação. O que era para ser um governo de "ruptura com a lentidão" tornou-se, em poucos meses, o símbolo da paralisia.
Educação em colapso silencioso
Gustavo Carmo foi secretário de Educação. Conhece a fundo os desafios da pasta. Ainda assim, seis meses após assumir a prefeitura, escolas continuam fechando por falta de água, professores ou auxiliares de classe. É inaceitável que, em pleno 2025, no município reconhecido nacionalmente pela qualidade da sua água, escolas estejam sem o básico para funcionar. A promessa de um salto qualitativo na rede de ensino parece ter estacionado logo nos primeiros meses da gestão.
Projetos estruturantes seguem apenas no discurso
Alagoinhas continua à espera. Espera pela duplicação da BR-101, por um aeroporto regional, pela nova rodoviária, por um centro administrativo moderno e funcional — que integre as principais secretarias — e por reformas nos prédios públicos que seguem em situação precária. A cidade também espera por um projeto urbanístico mais ousado, que contemple um novo centro comercial, um centro de convenções e um redesenho que aponte para o futuro. O centro de Alagoinhas, envelhecido e saturado, clama por revitalização — ou corre o risco de se transformar numa versão local da Baixa dos Sapateiros, abandonada à própria sorte.
Do discurso à prática: o abismo
Não é exagero afirmar que a gestão Gustavo Carmo, até aqui, vive de promessas e entregas simbólicas. Há, sim, iniciativas e tentativas de avanço, mas a marca dos seis primeiros meses é a ineficiência na entrega concreta. O discurso de transformação estrutural esbarra na realidade da burocracia, da má execução e, por vezes, da falta de sensibilidade com as prioridades reais da população. Transformar Alagoinhas na "cidade do bilhão" exige mais do que slogans. Exige competência administrativa, planejamento estratégico, execução qualificada e, sobretudo, coragem para tomar decisões impopulares, porém necessárias.
Ao completar seus primeiros seis meses de governo, Gustavo Carmo precisa mais do que ajustar o discurso. Precisa ajustar a rota.
A cidade, sua população e sua história exigem mais. Merecem mais.