Na sessão ordinária desta quinta-feira (10), o vereador Gleyser Soares (PV) fez um pronunciamento contundente em defesa do jovem mototaxista, entregador de delivery, Felipe Junqueira, que foi alvo de uma abordagem controversa da Guarda Civil Municipal de Alagoinhas na última segunda-feira (7), registrada em vídeo amplamente divulgado nas redes sociais, e que estava presente no plenário da Câmara durante o pronunciamento.
Com um discurso marcado pela emoção e pelo compromisso com sua trajetória pessoal, o vereador relembrou sua experiência como mototaxista e como licenciado de uma rede de delivery, destacando que conhece de perto a realidade enfrentada por quem depende da moto para garantir o sustento diário. “Falo como alguém que já viveu na pele o que é ser motoboy neste país. Conheço a invisibilidade social e os riscos dessa profissão, e por isso não posso me calar diante do que aconteceu com Filipe”, afirmou.
O parlamentar destacou que esteve pessoalmente na sede da Guarda Municipal, onde foi recebido com respeito pela comandante Silvânia Soares. Lá, foi informado de que o caso ainda está em apuração e que até o momento havia apenas o relato registrado no livro de plantão da guarnição envolvida.
O vereador frisou que não está na tribuna como inimigo da Guarda, mas como representante do povo, cobrando transparência, respeito e responsabilidade. “Reconheço o papel importante desta instituição na proteção dos espaços públicos da nossa cidade, como define o Estatuto Geral das Guardas Municipais. Mas nenhuma abordagem pode ultrapassar os limites da dignidade humana. Nada justifica violência”, declarou.
Também pediu aos colegas vereadores atenção ao vídeo da abordagem e questionou sobre a conduta da Guarda frente à situação problema. “Se a motivação foi uma infração de trânsito, não caberia acionar a Superintendência Municipal de Trânsito? Se houve resistência, por que não chamar a Polícia Militar, que tem competência legal para esse tipo de situação? Mesmo que houvesse desacordo, que justificativa há para uma agressão física a um trabalhador em pleno exercício da sua função?”, indagou.
O vereador ainda repudiou uma mensagem de cunho intimidador enviada por um agente da Guarda Civil Municipal em sua rede social. “Esse recado vai para o senhor, guarda civil municipal Mascarenhas. Nem o senhor nem qualquer outro irá me intimidar ou me calar. Coloquei meu nome à disposição para lutar pelo povo. Me respeite, moleque”, exclamou.
A vereadora Juci Cardoso (PT) também reforçou o tom de alerta quanto a conduta da Guarda, bem como do papel fiscalizador do Legislativo. “A Guarda Municipal é uma instituição importante, mas é preciso lembrar que ela não está acima da lei”, exclamou. “Não há justificativas para agressão física, ainda mais contra alguém em situação de trabalho. E nenhuma tentativa de intimidação pode calar a voz de um parlamentar. O Legislativo é um poder independente”.
O vereador José Edésio (Progressistas), por sua vez, também se manifestou sobre o episódio, reforçando a necessidade de apuração dos fatos e combate à impunidade. “A ninguém é dado o direito de agredir verbal ou fisicamente. Essa situação não pode passar despercebida. Temos que eximir essa linha da impunidade”, afirmou.
A vereadora Luma Menezes (PDT) também se posicionou sobre o episódio. Para ela, o debate precisa ser ampliado para além do caso específico. “É necessário falar sobre isso para que possamos romper desafios e buscar lidar com problemáticas que podem existir na guarnição. Isso vale não somente para a Guarda, mas para todos os órgãos. É importante refletir sobre isso, pois a fiscalização de um parlamentar não deve ser punida com retaliação”, destacou.
A vereadora Jaldice Nunes (UB) mencionou ter recebido uma ligação do Coronel Humberto Sturaro, responsável pela Guarda Municipal de Salvador, e que havia ministrado um curso para guardas municipais de Alagoinhas, nesse sentido, entendeu a necessidade da realização de uma audiência pública para debater o tema. “Gleyser está vereador, portanto, uma autoridade constituída pelo povo”, iniciou. “Recebi uma ligação do Coronel Sturaro, é importante que realizemos uma audiência pública para tratar sobre o assunto, pois não podemos deixar esse caso passar em branco”.
O presidente da Câmara, vereador José Cleto (PSD), também se posicionou durante a sessão. Ele reconheceu a importância da Guarda Civil Municipal para a segurança da cidade, mas condenou o episódio de agressão: “Nós confiamos na Guarda Civil Municipal, que tem sido muito útil enquanto uma força de segurança do município, mas uma atitude desta natureza não podemos aceitar. Mesmo se tratando de um caso isolado, nenhum cidadão pode ser tratado desta maneira. Que a pessoa que cometeu essa atitude possa se retratar e se adequar aos princípios e à doutrina que a Guarda tem para cuidar e proteger nossos cidadãos”, declarou.
Por fim, o vereador Gleyser sugeriu que a Guarda Municipal solicite as imagens das câmeras de segurança do local, para que toda a ocorrência possa ser analisada em sua totalidade, bem como reforçou a importância de investimentos em formação continuada, protocolos mais claros e diálogo constante entre agentes de segurança e a população. Ele relatou que esse foi o tom de sua conversa com a comandante Silvana, deixando seu gabinete à disposição tanto do jovem agredido quanto da Guarda Municipal.